O ser e o limite



Enquanto através de um processo lógico de racionalização e fazendo uso da ferramenta linguagem tendemos sempre ao reductio ad absurdum¹, para definirmos o que é², precisamos aprender a lidar com outro meio de conceituar o universo.

A linguagem, maneira de atribuir símbolo às coisas de modo a que possamos compreendê-las e torna-las práticas, jamais irá reproduzir o que a realidade é de fato. Sua função é traduzir a realidade a uma coisa com a qual possamos lidar.

A nossa forma de compreender as coisas, tendo sida adquirida ao decorrer do processo evolutivo, permite-nos sobressair perante as outras espécies e sobreviver nos ambientes mais hostis de nosso pequeno planeta, contudo, não nos permite entender questões como a possibilidade de uma origem ou a de um universo cíclico, pois como já dissera, o fim único para o nosso modo de raciocinar é o reductio ad absurdum.

Vamos analisar as formas como nossas mentes permite-nos sugerir a existência do universo, invocando Górgias com seus admiráveis jogos de conceitos.

É possível que haja uma origem? Creio que não. Pois do nada, nada surge. Sabemos que o universo, tal como o conhecemos hoje, se originou do Big Bang, mas o Big Bang foi nada mais que um acontecimento cosmológico no espaço, não foi a origem, foi uma transformação. Conceitua Lavoisier, “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Esta frase onde traz a ideia de conservação da matéria é genial por um motivo: Sabemos hoje que a menor partícula em que ainda pode-se considerar matéria é um átomo, desunindo os constituintes do átomo, temos energia. Não se pode sumir com a energia, ela sempre estará aí, mesmo que ela percorra os caminhos incógnitos de um buraco negro, ela não deixará de existir no espaço. Logo, a matéria é eterna – ou ao menos é isso o que conclui o nosso vão pensamento -, nolens volens³, este é o limite em que podemos chegar, eternidade é reductio ad absurdum. Se a matéria é eterna, como poderia ela ter tido uma origem? Pois se tivesse, seria limitada no tempo, deixando assim de ser eterna. Por outro lado, não há como ser eterna, pois tudo o que é, ocupa lugar finito no tempo e no espaço.

Em suma, a lógica e a razão não condizem com o que presenciamos.

A subdivisão infinita do espaço demonstra bem isto.

Tanto Zenão quanto Heráclito estavam corretos em suas afirmações. Contudo, deve-se compreender Zenão como um pensador teórico e Heráclito como um pensador prático. A filosofia de Heráclito representa a realidade do modo como de fato ela é, mas se partirmos para a racionalização da mesma com Zenão, será encontrado várias contradições. Devo também dizer que os dois pensadores não tratavam da mesma questão. Enquanto Heráclito partia do pressuposto que a realidade é e se dava o trabalho de interpretá-la, Zenão contribuiu em um andar a baixo, o da metafísica. A ciência precisa partir do mesmo ponto que Heráclito para poder funcionar. Não faria sentido inventarmos tecnologias e desvendarmos o universo se partíssemos da possibilidade de o mesmo não ser real. Portanto, a ciência se apoia em um pressuposto metafísico. Mas não se pode dizer que a ciência se apoia nos pilares das mentiras e superstições, como fariam os mais céticos no assunto – ou os que acreditam na hipótese da Matrix -, pois não sabemos se esta realidade é, de fato, irreal. É, portanto, demonstração de honestidade intelectual – consigo mesmo - suspender o juízo.

Não creio que o Homo sapiens vá evoluir, e sim, impulsionar a própria evolução – isto se nossa capacidade de criar armas de guerra não evoluir mais rapidamente que nossas ciências médicas -.

É de fato necessária uma evolução no intelecto humano, pois já beiramos os limites do saber, os limites do nosso saber.

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1. Redução ao impossível.

2. Ser, existir.

3. Querendo ou não.