Amor fictício

 
Em prantos, dou adeus à existência,
Que de nada me serviu.
Que, tempestuosa, levou-me à demência,
E de minha mágoa sorriu.

Sempre que almejara a morte
Tu, anjo de meu sonho valoroso!
Cicatrizou-me o profundo corte
Que me causara o flagelo amargoso.

Se choro, é por partir dessa existência
Sem ter tocado os vermelhos lábios dela
Que semelhantes ao líquido da essência
Forçavam-me a viver, viver por ela!

Peço, anjo meu, que encontre o defunto
E que a ele dê o beijo que sonhei
Para que descanse, de ti estando junto,
E lembrar que nesta vida eu amei!


John Henrique – 30/05/11 02:00

Soneto I

 Retraído e propenso à demência
Intrincado em sentimentos tão diversos
Que conduzem-me aos pés da decadência
Em papel límpido tracejo versos.

Cativa-me teu modo de falar
Como o tímido sol de manhã fria
Como o de um amante o olhar
Maravilha-me o teu em demasia!

Admiro a graça de teus gestos acanhados
Que expressam uma feminilidade ameigada
Em momento em que acasalados

Os olhos fitam-se em junção inexplicada
Inspirando trechos magoados
Em folha virgem amassada.

John Henrique – 15/06/2011 02:14

Corpo vivo, morto e de animal

Um corpo vivo e um corpo morto, ambos possuem o mesmo número de partículas, qual a diferença relevante?
Um corpo vivo ainda exerce a sua função de complexo de matéria orgânica, um corpo morto, também, uma vez em que toda matéria orgânica tende a perecer e alimentar outras formas de complexos de matéria orgânica. Portanto, tanto o vivo quanto o morto são úteis e importantes para a dança do ecossistema. Ah! Que ganha o ser humano por romantizar as coisas com seus delírios pessoais? E pior: Que ganha por matar em prol de seus delírios pessoais? Às mulas de plantão que ainda se contrapõe à prática de necrofilia, zoofilia e afins, recomendo que façam uso de um microscópio e um bom livro de biologia e em seguida tentem me explicar o fundamento da moralização em cima de tais práticas.
Agora, se consideramos o bem estar do ecossistema uma coisa importante, é milhares de vezes mais correto praticar necrofilia do que cortar uma árvore. Se destruíssemos toda a vida vegetal do planeta, praticamente todas as formas de vida sofreriam graves consequências. Contudo, se destruíssemos todo ser humano do planeta, praticamente nenhuma forma de vida sentiria diferença. Primeiro porque as espécies vegetais são demasiado importantes para o equilíbrio do ecossistema, incontáveis vezes mais importantes que toda espécie animal.
Concluímos, portanto, que se consideramos o bem estar do ecossistema – e, consequentemente, o nosso próprio bem estar – uma coisa importante, então as espécies vegetais são mais importantes que as animais.
Costuma comer um boi vivo? Eu também não. É preciso mata-los, sem dó e nem piedade, estraçalha-los, limpar o recinto todo sujo de sangue, jogar as tripas e afins fora e pendurar a carne como produto de comércio. Ainda acha imoral praticar sexo com animais? Zoófilos não costumam matar o seu animal doméstico, pelo contrário, basta uma breve olhada no genital do animal para ter a certeza de que ele está se divertindo muito. Não seja um  moralista nonsense.

Falácia da linguagem



Nada é. Pois ser é um conceito proveniente da imaginação humana. O universo apresenta-se implacavelmente indiferente. Não seja burro! Não pense que faz sentido romantizar as coisas. Olhe para o monitor, é apenas matéria e não um objeto de valor, nem mesmo um objeto, nem mesmo matéria! Atribuir valor é atribuir imaginação ao imaginado. Livremo-nos da falácia da conceituação. A verdade só é dita quando não se diz nada.

O dilema humano



Não há um fator determinante para julgar o certo e o errado. Não faz sentido julgar fazendo uso da ética aristotélica, isto é, julgar a situação não mediante a um fator único e pré-estabelecido, mas sim considerando o contexto em que se está inserido, isto é, a moral em que se está inserido. Ora, não há um fator determinante para agir mediante a isto, também. Se minha vontade não condisser com a moral do contexto, terei um problema. Embora a vontade não tenha um fator determinante, também.
Para desconstruir a tese de que se deve agir de acordo com a vontade – pois a de que se deve agir de acordo com a moral é ridícula e não merece atenção, qualquer um que tenha lido alguma obra de Nietzsche, aliás, que tenha compreendido alguma obra de Nietzsche, sabe disto -, precisaremos explicitar o que é a vontade.
Fazendo uso de uma ótica evolucionista, temos a vontade como um mecanismo determinante da ação de um complexo de matéria orgânica, e é esta que irá fazer com que o organismo execute a sua função. Portanto, a vontade surge como um mecanismo ”robotizante” da função de complexos orgânicos. A vontade é uma ferramenta espetacular para garantir que determinada espécie prossiga com a função adequada que garanta sua sobrevivência e progressão no ecossistema. O homo sapiens possui capacidade de analisar, prever e imaginar relações de causa e efeito, nisto, ele encontra-se apto a buscar as razões da vontade. O homo sapiens possui capacidade de imaginar e idealizar, nisto ele encontra em seus devaneios coisas que empobrecem sua relação com o mundo físico, isto é, o mundo físico comparado às suas projeções de algo ideal torna-se matéria fecal. Através do próprio sentimento que impulsiona a busca pelo bem estar individual, o indivíduo desta espécie vê-se desejando que o mundo fictício de seus devaneios sobreponha o mundo físico.  Contudo, sua capacidade de estabelecer relações de causa e efeito não permite que ele simplesmente passe a acreditar que tal mundo fictício seja real, então ele passa a procurar algum resquício de sentido lógico para fundamentar a existência de seu mundo ideal. Por vezes, a crença na existência deste mundo ideal faz o indivíduo humano negar as vontades do corpo, que outrora foram o fator determinante de sua ação, permitindo que exista apenas uma vontade: A de que tal mundo ilusório fosse real. Isto leva o indivíduo à fossa do idealismo ascético. Mas, falávamos sobre a fundamentação da vontade, certo? O indivíduo racional, portanto, pode fazer com que seus ideais e imaginações sobreponham todas as vontades, com exceção de uma, a vontade de que o mundo fictício seja real e frente a esta vontade, faz curvar todas as outras. Que animal estranho este que ousa interromper o processo determinante evolucionista em prol de crenças imaginárias! Qualquer verme sabe que ideais ascéticos são uma apologia à morte e a ausência de reprodução e, portanto, uma estrada para a extinção. Assim, todas as religiões tornam-se doenças prejudiciais para o bem estar da espécie humana, uma falha evolutiva que o tempo se encarregará de eliminar. Podemos provar historicamente que religiões são a principal motivação de guerras e, consequentemente, mortes. Por vezes direta ou indiretamente. Há períodos em que fora utilizada como ferramenta do estado para justificar a guerra. Ora, em que se apoiaria um governante para justificar um massacre “santo” se não pudesse utilizar da crença irracional? Afinal, a crença irracional justifica tudo para uma população de aberrações ignorantes. Talvez a espécie humana não se encontrasse em declínio, rumo à autodestruição se nunca tivessem permitido que o desejo pela imaginação substituísse o mecanismo natural de ação, o instinto.
Através do uso da noção de causa e efeito, concluímos que a vontade é um mecanismo determinante e através do processo imaginativo podemos substituí-lo. Há um dilema, portanto. Deixaremos que nossa vontade nos guie ou elegeremos uma imaginação para que seja determinante de nossa ação? Ambos impossíveis, desculpem-me! Por vezes surgirá um indivíduo que irá preferir um e não outro, aí surgirão os conflitos e guerras sangrentas. Temos aqui a origem de todo conflito humano com a sua própria espécie, o dilema razão e instinto. Conciliar ambos? Não seja burro! Querendo ou não, a vontade algumas vezes não irá condizer com a razão e vice-versa, sendo isto motivo de frustração para o indivíduo humano. Queremos aqui encontrar um fator verdadeiro e útil, em que se resume toda a história da filosofia? Conciliar seria, por vezes, ficar frustrado em função de um e por vezes em função de outro.
Em hierarquia, a razão vem depois, surge como uma ferramenta para melhorar o desempenho da vontade. Contudo, através dela surge a necessidade de fundamentar a vontade – até a vontade – através de uma relação de causa e efeito. Descobrimos, após um longo período de reflexão, que não há um fator que fundamente a vontade, e tão pouco as crenças. Como poderemos agir, então, se necessitamos de um fundamento, mas entendemos que não há? Niilismo! Ou talvez não. Se deixarmos de agir por entendermos que a verdade é que não há nenhum sentido na ação, o niilismo se tornaria um ideal ascético que priva a vontade natural do corpo em função da verdade. E, se fizéssemos tal coisa, estaríamos partindo do pressuposto que o niilismo é a posição ideal, o que é um princípio moral. Não há como não agir. Tudo é vontade de poder. Para deixar de agir, a coisa teria que se tornar atemporal, o problema é que um fator fundamental para algo existir é a temporalidade. Logo, devemos entender o niilismo como a ciência da ausência de sentido e não da não ação em função da ausência de sentido.
Sendo impossível deixar de agir e impossível não procurarmos um fator fundante para a ação, em virtude da nossa carga evolutiva e entendendo que não há um fator determinante da ação – embora seja impossível para nós pararmos de buscar um - não posso dizer “foda-se, vamos aderir uma crença qualquer então” e nem “vamos eliminar todas as crenças, pois isto tornará o mundo melhor” já que ambas as coisas seriam moralizar. Suspendo meu julgamento. Não sei de nada.
O ser humano é um mecanismo orgânico que se caracteriza por este dilema, sua história é triste e cheia de frustrações (aos olhos da moral-pré-estabelecida).