Que é a alegria sem a dor?


Atribuímos valor imenso a momentos de bem estar por estarmos cientes de que poderiam ser piores, e não são. Na inexistência de situações ruins, de dor e sofrimento, alegria seria um estado padrão deplorável de monotonia. O valor atribuído à felicidade seria nulo. Felicidade existe apenas como objeto de desejo e, obrigatoriamente, é necessária sua ausência para que a mesma seja desejada. Eu não iria querer um par de olhos quando já possuo um.
Situações ruins geram estímulo, vontade de mudança, visando no horizonte a melhoria. Se no horizonte já estivéssemos não haveria para onde irmos. A plena felicidade é a plena mentira, sempre haverá um horizonte. Estaremos sempre nas margens do oceano alimentando-nos de sonhos. E aqui, aqui na margem com o inimigo à espreita, os fantasmas da dor que daqui parecem mais quererem expulsar-nos, nos fazem sonhar, nos fazem caminhar e darmos voltas. É depois de muito tentar que percebemos que o horizonte sempre será lá, onde quer que estejamos sempre será lá. Alguns gostam de fechar os olhos e fingir estarem lá. Alguns passam a vida toda enganando a si mesmos.
É nisso que se resume a vida: Uma busca infatigável pelo horizonte inalcançável. O que seria de nós, sem os fantasmas para nos fazer movimentar?

Um comentário:

  1. sem os dementes sonhos, esses que nos movem, e nos levam, para o declinio, sempre;
    às desilusões, ao cataclisma

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